segunda-feira, setembro 27, 2010

Depois escrevo.

Agora me surpreendi com alguém na entrada,


que não viu o espelho quebrado,


nem o vento virado da sorte despontada.


É assim mesmo, onde se deixam cacos, podem se dar cortes.


Esta é uma hipótese confirmada.


As outras virão com o tempo. Qualquer tempo.






"Sentimento Bordô"

domingo, setembro 12, 2010





Ele trouxe a máscara
Emprestou-me seus papéis, suas caras
Devolveu-me a mesma condição, sua palidez em profusão
Não me soltaria ao sol, não mais
Perto do seu medo, minha altivez, meu trato
Longe, minha alegria, meu vestido de algodão bordado
Dentro dos meus dias, meus melhores textos, minha agonia,
meus guardados de arlequim


"A Fantasia"
de Rosângela Monnerat
                                                          
                    tela "The Old Mask" de Alexandru Darida

domingo, setembro 05, 2010

Chamado

Chama,
existia a chama,
existiu



No olhar,
reclama seu lugar,
reclama


Sente o drama,
acalma,
esquenta a solidão


Sobe,
acima, abaixo,
se partiu


Brinca solta em suas mãos e arde


Resta alí sem sopro,
fraca,
fogo que se dá


Não se apaga em nada,
larva em pouca luz


Segue acesa noite e dia,
solta,
e o escuro adia mais


Arde em seu silêncio,
queima um rosto só


Entrega-se oportuna,
espectro e contorno


Pouso,
posto que perdeu no ar





sábado, agosto 28, 2010

Dobras duras








Era de papel





Dobrada em silêncio






Motivada ainda por pequenos sons






a guardar-se da cor








Poderia rasgar-se, ferindo o chão com seus pedaços






Poderia sim, deixar-se escrever






Mas não havia história presente






Não, não havia papel algum






Só um rasgo






e um amontoado de borrões






dobrados demais

sábado, agosto 14, 2010

uma lenda de verdade



                     


Petrificada, nada, nada, pesa


É pouco chegada ao solo, nuvem descoberta,


chuva sem parar


Seu corredor de raios, que o partam, pelo meio, um dia


Santa correlata, sua sede, sabe gota a gota, o céu


Não segura o sol, estrela cai de noite, cai, sereno


Bate em retirada, a madrugada, dói, se dói


Não relata nenhum tempo, vendaval levou, verão corrói


Volta e meia a dor, a cor, resulta azul





                             


Conta a serenata que apareceu o par da lua, o sol


Diz-se que o par não tinha encontro, se perdiam, se morria um


Em vão nascia o outro, em destino roto, de semblante só


Quando por detrás do vento, em sopro de um momento, some a palidez da hora


O sol querendo a lua, declarou-se forte e mais que amor


A lua, derretendo o frio, dispersando a nuvem, fez o sim, em chão de estrelas


Pode então a noite repartir-se em dois


Diz-se que no tempo, qual crepúsculo, o sol deixou à lua sua luz

seu brilho e seu calor


Pra sempre

 
de Rosângela Monnerat

sexta-feira, agosto 13, 2010

Com a tela de Duncan



Cerca. Sustenta-me. Cerca-me no olhar
Enquanto a manhã se dispersa em cores de sol
ajeito-me, em nada demais
Olho o que fazer sobre o dia, sob a mesma semana, bordada em momentos
Não sabia de nada de antemão, nunca sei...
Tinha que ver a saudade, ordenar a vontade, lembrar-me a saúde também.
Nunca olhei tantas coisas assim, sem meu amor...
Só ontem não perdi nenhum tempo
Tinha certezas guardadas no fogo
Fiz uma cena, e a polenta que aprendi nos dias de inverno
Mas quase não mexi nos pratos
Deixei feriado me levar, deixei qualquer hora
Agora enxergo mais tempo, mais ruga ao luar
Não sabia mesmo, nada, de antemão
Quase guardei meus pedidos pra um dia
Um dia seu moço, num dia qualquer...


" Interiorana"
de Rosângela Monnerat