As borboletas assino,
fugazes, rasantes,
das cores que minto na luz do sol.
Quando elas me escapam, eu as bendigo, com dons de viagem.
Elas me deixam sem pressa e esquecem de mim,
com a bagagem.
Não me entristecem, pelo contrário,
arranjam-me sorte e sorrisos.
E levam de mim, aos amigos, aos ventos,
meus argumentos de voar
Calma de Borboletas
de Rosângela Monnerat
Depois escrevo.
Agora me surpreendi com alguém na entrada,
que não viu o espelho quebrado,
nem o vento virado da sorte despontada.
É assim mesmo, onde se deixam cacos, podem se dar cortes.
Esta é uma hipótese confirmada.
As outras virão com o tempo. Qualquer tempo.
"Sentimento Bordô"
Ele trouxe a máscara
Emprestou-me seus papéis, suas caras
Devolveu-me a mesma condição, sua palidez em profusão
Não me soltaria ao sol, não mais
Perto do seu medo, minha altivez, meu trato
Longe, minha alegria, meu vestido de algodão bordado
Dentro dos meus dias, meus melhores textos, minha agonia,
meus guardados de arlequim
"A Fantasia"
de Rosângela Monnerat
tela "The Old Mask" de Alexandru Darida
Chama,
existia a chama,
existiu
No olhar,
reclama seu lugar,
reclama
Sente o drama,
acalma,
esquenta a solidão
Sobe,
acima, abaixo,
se partiu
Brinca solta em suas mãos e arde
Resta alí sem sopro,
fraca,
fogo que se dá
Não se apaga em nada,
larva em pouca luz
Segue acesa noite e dia,
solta,
e o escuro adia mais
Arde em seu silêncio,
queima um rosto só
Entrega-se oportuna,
espectro e contorno
Pouso,
posto que perdeu no ar
Era de papel
Dobrada em silêncio
Motivada ainda por pequenos sons
a guardar-se da cor
Poderia rasgar-se, ferindo o chão com seus pedaços
Poderia sim, deixar-se escrever
Mas não havia história presente
Não, não havia papel algum
Só um rasgo
e um amontoado de borrões
dobrados demais
Petrificada, nada, nada, pesa
É pouco chegada ao solo, nuvem descoberta,
chuva sem parar
Seu corredor de raios, que o partam, pelo meio, um dia
Santa correlata, sua sede, sabe gota a gota, o céu
Não segura o sol, estrela cai de noite, cai, sereno
Bate em retirada, a madrugada, dói, se dói
Não relata nenhum tempo, vendaval levou, verão corrói
Volta e meia a dor, a cor, resulta azul
Conta a serenata que apareceu o par da lua, o sol
Diz-se que o par não tinha encontro, se perdiam, se morria um
Em vão nascia o outro, em destino roto, de semblante só
Quando por detrás do vento, em sopro de um momento, some a palidez da hora
O sol querendo a lua, declarou-se forte e mais que amor
A lua, derretendo o frio, dispersando a nuvem, fez o sim, em chão de estrelas
Pode então a noite repartir-se em dois
Diz-se que no tempo, qual crepúsculo, o sol deixou à lua sua luz
seu brilho e seu calor
Pra sempre
de Rosângela Monnerat