quarta-feira, janeiro 27, 2010

Soltando fumaça

Não a repreendi







por estar alí






com este olhar rarefeito






seu vício maior






Era só de fumaça






não tinha nenhum contraponto melhor






Fez silhueta de fogo






brincou de desenho no ar






Saiu em contornos desfeitos






com muitos defeitos






que não vai contar








distraída que está








entre a sombra e o chão






Num sopro






só  mesmo veneno e dispersão

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Ficando à margem

Assim mesmo, acompanhando este olhar
Sentindo outra água corrente debaixo dos pés
Na cena do mar, onde peixes navegam sem ter onde ir
Perdendo a coragem de ver onde é fundo demais

Não soube nadar
Saiu feito ave pernalta, buscando atenção
Tentando com as mãos equilíbrio
Tentando nos passos fazer o barulho menor
Ninguém saberia de nada o melhor
Apenas o artista e o céu
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Gosto que enrosco (Time after time)

sábado, janeiro 09, 2010

de lua e de sol





Ah!... se este pedacinho de lua contasse, quantos olhares recebeu, quantos diários ajudou a escrever, à noite.










Este pedacinho de lua, calçado na escuridão, teria uma série de pedidos vagos,


de orações interrompidas pela vontade de ouvir à Deus.


Enquanto esperava resposta, ouvia rumores de sono, daqueles que dormiam sem perdão.


                   "Tudo por causa da lua"


 
 
 
 
Não havia muita nitidez na rua. Ele saiu à floresta sem recurso largo, tinha sapato nos pés e busca, apenas.



Encontrou sereno, lua, estrela e guia, a força incontrolável do seu amanhã. Depois abriu ao sol segredo, sua contrição mais dura de encarar.


O sol, abrigo inteiro para a luz, não quis deixá-lo alí, parado em seus porquês.


Ofereceu sua alegria, devagar, raiando aos poucos, com neblina e pouca nitidez.


Depois deixou ao homem sua própria vez, de despertar.




                                               "Considerações à luz do sol"

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Programa em ação

Vestido de noite



justo


injusta hora


Quando não, a pouca voz


sentença


condenando tudo ao nada inteiro


Passe para cá, meu luxo


Ordene seus papéis, seus casos


Tanto faz se não penei


agora é lucro

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Última prova

Num último dia de ano



você me deu corda,


panos,



e pregas no olhar.              


No último minuto,


você me deu branco:


o que falar?...


No último,


você me deu o primeiro lugar.


No, não! digo: nó,


eu acabei tudo.

sábado, janeiro 02, 2010

Percurso ou O surto dos saltos





Escrever pequeno,






       sobre o salto grande,






                                               sob o seu sapato alto,






sobre o asfalto,






                                      que pisou.






Escrever sem tino,






                           sobre o salto fino,






em grande estilo,






                                quando olhar do alto,






todo asfalto,






                            que pisou.

Poesia, sem remédio!

Os poetas não têm razão.

                                             Poeta é só coração, generoso.


Reparte de si sem qualquer miséria.



E reparte do mundo,


tudo que alcança sem querer.


Tudo que irrompe na sua janela.


Toda matéria ou volição.


Ainda que o tempo reaja com velhas manias,


que o tempo é um doente sem cura,


a poesia é milagre sim, pra qualquer devoção.

Com posição na areia

Estou olhando ao avesso



as coisas do medo e tudo mais


Quero que a dança se farte em mil tratos de mim


Um anel, uma taça, uma saia de fita e cetim


O balé terminava na areia, no início do mar


E de lá, saía embalado nas ondas


deixando o que tinha na ponta dos pés