sexta-feira, dezembro 16, 2011

Perspectivas

Das colinas me olhava
sorriso inteiro, entregue
Naquela gentil paisagem
fazia tudo ser planície de sol
Sua boca me levava a ruídos
na quietude da flor, morada
Como vento
seu alento rouco de sussurros percorria meu chão 
Era pouco ter vontade, ter viço, terminar um verso
Era melhor rolar, rolar...
Que a solidão não encontra espaço
sem atrito
e tempo...

terça-feira, dezembro 13, 2011

Eva no vento

Deixou-se, extraviada em pedido.
Não sabia horas de enlevo desde que calou-se, amuada, como diário sem leitor.
Por certo menina, em mudança, sem sombra de sol.
Enquanto encurtava a distância entre a pele e suas mãos, ele a tocou, como um vento enamorado.
Não sentia temor algum. Queria a viagem.
Fosse qual fosse sua correria no embarque seria bagagem de dois.

quinta-feira, dezembro 08, 2011

Figurante

Os ângulos não me suportam
Faço cadeira cativa e não circulo
Tenho um dos lados da questão
meu ombro pesado
Se você puder, alcance-me
Preciso de suas mãos, suas linhas
Quero sua geometria sem medida a me desenhar



      
Precaução. Meu chão de receios.

Seus braços erguidos. Minhas mãos escaldadas.

Toda pressa aguardada em seus pés.

Queria um relevo de algas umedecidas pelo mar consolo.

Peso suspenso pela praia.

Você, me enlaçando feito onda no raso, em vontade de ir mais fundo.

Eu, colo de risos, sem pontuação. Um derretimento em sol.

                                           "Pelas beiradas"
                                                     Rosângela Monnerat

domingo, dezembro 04, 2011

Ninfa






Se é assim...
receba-me no ar
brisa onde fores vento
melena onde fores mão
vou cair pela tarde, flor, de um amor cultivado
quase visgo, tens meu broto a gemer

Recapturada

Na caverna, sem juízo,
dela escorriam motivos do tempo em que fora servida por ondas do mar
Agora, cacto, confunde-se na posição escolhida, encolhida na solidão do seu auto-retrato

Num desenho de Ruy Barros



Amanheceu num conto de fadas
como um beijo que enquanto dura
é de amor feliz para sempre.


Adoro arriscar formas, desenhar botões.
Passear caminhos, refazer as buscas, postergar a conclusão.
Desenho amor, em livro aberto.

                                  Leve com amor. É meu brinquedo a dois.
  
       Olhares profundos, e raros, repousam onde se deitam, afundados...

quinta-feira, dezembro 01, 2011

Feitos de Adão e Eva

Eles sempre começaram bem.

Suaves nos melindres, se tocavam com cinco motivos, de cada mão.

Na hora da sorte, sorriam a dois, como parceiros.

No azar, praguejavam, algum ajeitando um suspiro de dó. 



Dividiam o mesmo olhar, com malícia, na curta carícia do sol.

Na chuva, se uniam em compasso ligeiro, com a mesma sombrinha emprestada, sempre inclinada pro lado menor.

Nenhum dos dois queria supor a mudança dos tempos.

Ah!... esse tempo plural...às vezes, bem mal aplicado...

A vida, na casa do outro, invadida a sinais.

O beijo sem função. A chave sem volta.

O trinco sem macho e fêmea.

E ainda, na tranquilidade sem trema, a trama sem pontuação...

Rodeando o sentido ferido de cada palavra, o silêncio

  - esse autor do implacável pedido - de separação...

        (...dedicado a cada um, aprendiz e mestre, na difícil arte de separar-se...)


                                              Blood of Eden