sábado, dezembro 15, 2012

De Cisão




Sumiram as interrogações da moça
Ela as escondeu sob si, sob o sinal da cruz
Sobre a tela do rosto, revelou-se
com um pedaço da pele do palhaço que roubou o seu final
Quis guardar o riso, não lembrou
Tentou a bailarina, engordou
E enquanto pespontava a expressão do medo,
ela confiou segredo ao mesmo olhar,
que triste, desistiu...
                                   
                                

Baboseira


A bailarina não perde por esperar
cada conta é um conto
de ali babar

Verdade

Não existe amor de brincadeira.






Preciosa arte entre desejos
                Toda cor que mastigo
                           E a cada pecado e mania
                                            o doce da vida...
                                                               meu amor...
                                                                    
 





"Romã"

Correspondência

 
Nos lugares de sempre
saudade
Na vigília
olhos
No corpo
espera
Na vontade
sem trégua
Sou entregue afinal
.
.
.
 

domingo, novembro 11, 2012

A trilha

 Eles não sabiam. Ninguém sabe.
A viagem seguia pelo lado menos conhecido e mais visitado.
O estado fronteiriço do amor.

Nostálgico

Não existia lamento, só suspiros
Colhidos pelos cataventos de outrora...
 
(ilustração - tela de Susano Correia 'Menino com catavento' )
 

Entrega








Deixou com toda vontade sua espera
E o tempo perdido contado nas mãos...

terça-feira, outubro 30, 2012

Pé ante pé




Supera em cada gesto um desperdício
Um passo que deixou, no tempo
Entregou-se ao momento, capaz
Não foi apressada de mais...
No silêncio esgueirou-se, por certo
Menina de pé no desejo
Já vou! É cedo!...

domingo, outubro 28, 2012

Camuflada

 
Me reuni à paisagem, solta dos nãos
Fui carregada em seus braços e pintada à mão
Adormeci ao murmúrio das águas e sonhei as delícias de um leito lunar
Quis deixar cada estrela
                por cada pedido
                           c
                              a
                                 i
                                   r
                                            E sorri...outra vez

                         (- ilustração - arte de Emma Hack)

sábado, setembro 15, 2012

Auto-estima


Quase não me dou à pena.
Fico nestas horas lentas, a ler portais.
Nas inscrições sou passagem, um aceno, à guarita.
Não sei da partida, dos idos.
Deixo a cada cena,
                         meus braços erguidos,
                                                       amplos de sol.

quarta-feira, agosto 15, 2012

Linhas

           No seu corpo, a curva se entendia com suas mãos
                                              Nas suas mãos, a vida inteira marcada a seus pés...

segunda-feira, agosto 06, 2012

Um recado na paisagem

Estar presente
Fazer do instante a grande opção de vida
Gostar do dia como a melhor carícia de Deus
Perguntar-se ao vento, à brisa, ao permanente ar
Não há que mudar o diário. Há que deixá-lo aberto nas mãos
Assim, ao porvir, muitas chances de ser o autor
Escrevendo seus dias como o faria na ficção, com emoção, com amor
                                     Desejo à você, que aqui lê, muita saúde e muita paz.
                                               Que o resto, "a gente corre atrás!..."

terça-feira, julho 17, 2012

Elástico

Suas curvas no espelho me acenavam
Sua cor, mentia
Não sabia seu enredo sobre minha pele, há dias...
Era sim, rotina, seu olhar
Quantas vezes fui correndo, à tinta, sobre a tela, num sorriso sem saguão, sem vida
Fui cedendo sem saber, ao tempo, seu patrão
Fui perdendo minha sede, minha fome, meus sinais sem dono
Era um outro par,
outro sem coragem,
ímpar
 
 
 
 
 

sexta-feira, junho 22, 2012







Estou só fazendo uma ponta...
- disse à rosa
O poema é seu...


                      

domingo, maio 27, 2012

É tarde...



           
Encolho-me, frente ao portão

Respondo ao medo

Quis o mar alí, regato no desvão

Risco na passagem, veto em corredor

Quantas vezes lí seu tédio, ronda sem pontuação

Mais adiante, em resto de calor, seus pés no sal

Torturado, meu olhar repousa, ave em céu azul

Sua cor dourada, seu papel, meu sopro

Longe vão meus olhos, fatos regam a provisão

A mentira não sustenta o corpo, isso, é ilusão...

             *ilustração: aquarela de Nana Mouskouri

domingo, abril 22, 2012

Estranho você
apressado
Mal cheguei ao seu lado, se esquivou
Passo mau tempo ao presságio da hora esgotada
Sinto-me sede, saudade, separação
É meu o pedido, é minha a boca, a gota d'água
Saem resíduos de coração partido
Saem gemidos, rouquidão
No mesmo suspiro saem flores, o passado, um rito de amor
Não sei o sentido que dei a expressão
Mas é seu, o carinho que trago
a fumaça que espalho
a boca que sustenta o perdão
               

sábado, abril 14, 2012

Desenhos de Ruy Barros


O amor, de pertinho,
aponta para o céu,
sem erro.

                      *ilustração de Ruy Barros

Os desenhos de Ruy Barros



Vem, meu vento encarregado de mim.
Vem por aqui, levar-me um brinquedo de amor.


                                                                                                 *ilustração de Ruy Barros

Os desenhos de Ruy Barros



De toda forma aquela flor os unia,
a cor dando coração.


                                                                          

                                                                                      *Ilustração de Ruy Barros

quarta-feira, março 28, 2012

E-terno voto

No sono se acalentam, sem prazo, os sentidos que sonham
                      somar-se em colo de mãe.

domingo, março 25, 2012

Sentidos

Seus passos no silêncio, e às cegas,
toda falta de olhar
'No princípio era o verbo', em todo lugar
E a busca, enfeitada de sol
Agora a tortura dos tempos letais
Essa falta de ar, seus mistérios
Mania de vida era o mar, seu azul, sua cor de manhã
Brincou de escutar sua música, sua concha de ais, suas voltas
Que alí, o menino que a tudo esperava, jamais se cansou

quarta-feira, março 14, 2012

Degráus


Os passos que ela daria
Quantas vezes sonhados
Salto afinado pelo barulho dos seus pés
Cada qual no silêncio, tentando ser, um chamado
Nenhum atendendo sem razão
Mas, o coração apressado, contando a verdade
Amor, que saudade!...
Não tinha certeza de ouvir

quarta-feira, março 07, 2012

Essas formas servis,

arredondadas

Essas sombras inexatas,

contrações

Toda mensagem escondida na luz

O que seduz, aplaca

É assim, com cada um

A certeza do amor estendido nas mãos

"O poema"

de Rosângela Monnerat

sábado, março 03, 2012

Questão



Por que mulheres erguem os braços assim
e se escrevem em marfim, pelos cantos do quarto?
           Por que se  mostram assim
                destinos aos dedos
                      contornos aos lábios
                                afagos às mãos?

Mulheres não respondem logo
Olham sorrindo sem falar
Sustentam o fetiche  das unhas carmim e se pronunciam, na nudez açucarada pela doce imprecisão
Depois,  por amor adormecem, antes da própria vez
Por amor, talvez
Por amor...                        

quinta-feira, março 01, 2012

Cerração





O território se mostrava aos poucos,
sem ruídos
Uma estrada a molhar-se
como se fosse ao sereno, serena, sua lágrima
O sentido do escuro espiando seus medos, banidos de sol
Olhares perdidos, à penumbra, rastejam ainda, em busca de mãos
Boca macia sem tato, onde o céu é tocado, sem nuvens, sem prazo
É verão nos telhados, diria a coruja, no seu patamar de lua, espantosa 
Tudo é cenário, fuga de um dia, fome de sol
A flor bebe em seus motivos, e nem sabe
A dor cede aos seus princípios, e nem arde
Mas é terreno, sim...
todo amor é daqui

sábado, fevereiro 25, 2012

Flerte

Só ela exagerou
Ele não
Ela tocando seus medos com a faca do queijo nas mãos
Seu semblante fechado, sem querer
Que bobagem que todos os dias se vejam na fila do trem
Num desejo contrário 
Que ela folga em saber
Que assim, não se vê na pior
E insiste no olhar
A dizer eu te amo
Sem fim
Sem parar

domingo, fevereiro 19, 2012

Encolhimento

 


Ela, comprimida, deixava seus versos em sinais
Era demais sorrir nas goteiras
Fechou-se em represa no olhar
Era melhor assim
Deixar a tristeza marfim
Colorida de mar  

sábado, fevereiro 11, 2012

Enquanto mergulhava, o salto se bordava em seu olhar
Tão rápido como fora o vento, aquele dono da vez
Não perdia o instante, no medo constante da dor
A sorte, o destino nada corriqueiro, sempre audaz
Rogo, vinha a vida do seu ventre, sulco farto, seu passado
Gota, vinha o mar, sedento por seu vôo, em explosão
Tudo em arremesso, sem futuro
Vida, vento, água, medo, e o mergulho em seu olhar


                              "Salino"
                                

quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Insinuada




Passo-lhe as mãos
Uma certa maneira de ser
O rasgo
Perfilado o poder
Esse dom de reter as delícias do olhar
Quem se resume ao prazer?
A isca do tempo é a falta de sol
O abraço, a carícia do vento
Teima o mais forte, o destino
Valha-me, Deus!

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Recolhido às marés

Não sei o que imaginei sem seu rosto
Era tão tarde...
Você estendido na pressa, conduzido à fadiga, destronado
Meu rei por suposto até o fim...
Você...
Meu sim de semblante farto, um apaixonado de linhas frequentes, olvidado
Sua fé me levando à loucura, marco de isenção
Seu amor saltimbanco, saindo sem lei, sem prazos
Não quero uma regra para ser feliz
Quero sim, seus afagos
Sua rede sem pescador
Porque pelo rastro da lua me sinto levada
Uma réstia de um tempo comum abraçado a dois

a ilustração - tela de Alexandru Darida "Falling in Love"

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Bibliotecomania





Livro-me

nessa mania

cem páginas

quinta-feira, janeiro 05, 2012

Cristalino


Soltava-se rendida sob aquelas mãos, desordeiras
Não, seu chinelo não tinha barulho, chegava
Seu tempo marcado entre os dedos, calava
toda melhor conclusão...
Sua boca, estampido, vencendo o cansaço
O nome, não faz confusão
Perde seus olhos no céu, escondido, por dentro do gosto
Conta segredo em gemido, nos dedos dos pés
Depois vai subindo, sem caso com o dia
Que ainda é verão, seu calor
Vai que um morango, um sorvete, na taça do amor declarou-se, cristal

quarta-feira, janeiro 04, 2012

Sobrevida


Flutuava por leveza, correnteza a se dar
Não tinha amarras naquele lugar
- era um sonho a deriva -
De quanto valia?...
Não sabia de quando era o sol
Não sabia afogar-se por dias a querer
Compelia seu corpo sem ter aonde ir
Perdia os sentidos
Alí?...
Nada...
Perturbava o início da noite com pesadelos
em que só boiava...
boiava...







terça-feira, janeiro 03, 2012

Balanço

Peso simples
Fuga do olhar
O consolo é que vai e vem
Preguiça agendada
Colo em balé
Não sei o que é, o que é
Solta a ninguém
Charada


Por um fio
Tecida à verdade
O tempo a guardava
Mentira pesada sem dó
Não tinha quem a sustentasse
Só Deus!...