quarta-feira, junho 29, 2011



Desejava ser pouco mais que uma linha.
Desenharia um contorno ideal.
Dentro dele um nome.
E depois do nome, nenhum poema ficaria sem lugar.

terça-feira, junho 28, 2011

Acinzentado




Ela o tocou, mais do que à flor
Apesar de em folha não ter fruto
Sombra em cinza, sem sabor
O enigma é a saída da alma pelo labirinto
Os sentidos, de um cego, a buscar-se em tudo

E o tempo a doer nos espelhos que a vida quebrou                

quarta-feira, junho 22, 2011






Sumiram as interrogações da moça.
Ela as escondeu sob si, sob o sinal da cruz.
Sobre a tela do rosto, escondeu-se na pele do palhaço que roubou o seu final.
Queria provocar sorrisos, mas chorou.

Queria ser a bailarina, engordou.
E enquanto pespontava ainda uma expressão do medo, confiou segredo ao mesmo olhar,

que triste, desistiu.
                                   


             "Circo e cisão"

quinta-feira, junho 16, 2011

Nada sério





Se é grito ou só riso
Ah!... é de brincadeira
Em vento virado, vacilo é de rei, me cansei...
O jogo é xadrez, nem sei se gostei
tenho que pensar...
Teria que mover um caramujo em lugar da rainha

e pendurar-me a caminho da torre
E a princesa, que eu saiba,  foi presa por lá!
Ih! O jogo é de azar...
Mas se a fita for rosa, a flor, já soltou-se de vez
e o amor, já cansou de esperar
Porque não e
                       s
                         c
                             o
                                 r
                                    regar?......

quarta-feira, junho 08, 2011

Apetrechos de Passagem ( uma menina de lua )


Menina, não sabia que ponta escolhia.
Puxava as rédeas de si, destrambelhada, num emaranhado de opções.
Seguia sem rumo, pequena travessa, atravessando a palavra, cortando o vício de viver seriamente.
Poucas vezes mentia, apenas não sabia contar toda a verdade. Verdades são intermináveis, dizia.
Seus amores eram plurais. Suas roupas eram fetiches de vestir a lua, estrelas de apontar desejos. Aprontava-se para sorrir ao luar.
Um dia a menina deixou a brincadeira e voltou-se ao inteiro dispor das coisas da hora. A poesia chamava, chamava, mas ela não ouvia. Corria da prosa.
Mesmo assim, de tempos em tempos, ela olhava para o passado, com olhos de lua cheia, alucinados.
Encontrava um restinho de si em seus guardados, e gostava de chorá-los, um a um - sentidos em tato, olfato, visão, audição.

Depois, só depois, abria a cortina do tempo para a vida presente. Enxugava qualquer resíduo de água de lua cheia, e apagava as lembranças.
Guardava de tudo, e para sempre, o mesmo brilho no olhar.             

                                          de Rosângela Monnerat
                                                  



 

sábado, junho 04, 2011




Uma de véu
escondida e clara
Outra sem nada
cabeça virada
mania de frente
mascarada
No canto, o escuro
atrás o mistério
no meio, a morte
contando a verdade
em duas versões
                                         
                            "Epifania"   
                                              

sexta-feira, junho 03, 2011




Estou cega de um olho
Prenderam-me a perna num rolo sem fim
Coitadinha de mim com este olhar de pouco
Vão roubar meu colar, meu pescoço
Vão me roer aos ossos, até amargar
Se eu soltar-me de mim, vou cair
Quando o rato voltar vou gritar meio louca
E o telefone que não toca sem parar

E eu que não sei distrair mais ninguém sem falar
Estou rouca de mim

                  "Enrolada até o pescoço"