terça-feira, janeiro 25, 2011

Aniversário



Ano em frente,
e o meu verso em árvore
Fato ao crepúsculo em vento,
flor em verde,
e pingente,
até o fim


       __________
Rosângela Monnerat

quarta-feira, janeiro 19, 2011




Lembro-me do lugar como "florzinhas".
Alguém dava a senha, que naquele tempo podia ser dica, ou sugestão; e imediatamente a resposta vinha em coro: "Vamo! Vamo"!
A gente largava o que estava fazendo e saía como se fôssemos ao melhor lugar possível para a ocasião.
Era perto do que hoje conhecemos como BH Shopping. Nos arredores do local, onde este enorme centro de compras foi construído, anos depois.
Era um terreno largo, sem cercas, sem casa, sem nada. Nada além das "florzinhas". Como estas, da imagem ao lado.
Pisávamos sobre o mato, mas nunca sobre elas.
Nossas "florzinhas" tinham um encantamento qualquer. Mas nunca falamos sobre isso, nenhum de nós. E olha que éramos muitos! Uns seis, ou sete amigos, sempre.
Enchíamos uma C 14. Um carro da Chevrolet, bem grande, muito espaçoso.
Naquela época a Polícia Rodoviária não era tão rigorosa, e acho que nem via a lotação que impúnhamos ao carro. Sim, porque as "florzinhas" nos faziam pegar estrada para visitá-las!


Chegávamos lá sempre quase ao entardecer. Era nosso horário preferido, e o "delas" também.
Acho que o "encantamento" era o mesmo daquele que experimentamos na chamada "Hora do Angelus", quando a luz do sol vai caindo, e algumas rádios tocam a Ave-Maria de Gounod.


Abríamos o capô da C 14 e deixávamos a música pairar sobre aquele mágico campo florido.
Ficávamos mudos um tempo, não sei de que tamanho, ou se provocado por um de nós.
Alguém diria: Vamos nos calar por um tempo? Não, acho que não...Não consigo me lembrar deste recado partindo de nós. Ficávamos quietos porque "elas" queriam assim :
as nossas "florzinhas"!...
Queriam compartilhar a música, dançar ao vento, correr por um momento que fosse, aqueles seus muitos olhinhos de miolo amarelo, sobre cada um de nós.
Queriam nos ver reunidos às suas manias de flor. Como por exemplo, a mania de serem tão próximas. Uma por todas e todas por uma, sem distinção.
Mas aprendemos também, a respeitá-las como singulares manifestações de uma pluralidade, de um cenário vivo.
E hoje, quando muito, seríamos ainda seus discípulos. Apressados em chegar, e melhorados ao deixá-las.
As "florzinhas" eram mestras em silêncio e delicadeza. Não saiam do lugar, mas dançavam.
Não falavam, mas eram palavras ao vento, todo o tempo. Não pediam nada, mas impunham seus limites, claros. Não tinham qualquer soberba, mas eram "florzinhas" como ninguém.


Um dia, não fomos mais, não sei por quê.
Talvez porque nem todas as lições acabassem alí, onde buscávamos alguma coisa que não nomeávamos, mas que seria amor, contentamento, paz...
Acho que hoje não saberia mais apontar onde estavam as nossas "florzinhas" de então.
Mas quaisquer flores do campo, estejam aonde estiverem, têm um pouco de toda aquela sabedoria de flor, e podem fazer com "gente" o que nós sentíamos que aquelas "florzinhas" faziam por nós.


                       
                                       "Eram florais"
                                             de Rosângela Monnerat



"Quando eu não falar, tente saber mesmo assim.
Vou até o fim,
calada,
entre a cruz e a espada,
entre o que eu não disser
e essa outra voz de mim,
que não me larga"




                  "Ocultista"
                        de Rosângela Monnerat

sábado, janeiro 15, 2011








Quando começava a música, a vida se mostrava em cada passo. Aquele que de tanto ou de pouco ensaiar, tanto faz, cada qual aprendeu.
De repente, era como se tudo fosse de própria composição.

                                                          



                                 "Instrumentos"
                                      de Rosângela Monnerat

terça-feira, janeiro 11, 2011















Abre-se em mosaico.
Sobreposição, subjugação,
superexposição.
Toda aos fatos se contrai, distrai, atrai, pespontando atenção, ao todo, ao tempo todo.
Tentativa e imagem, no contorno frágil, delirado, nos detalhes soltos, nos espelhos, refrações.
A cabeça vai, o corpo faz, a luta é desigual.
Não há parte inteira, não há fim expresso, não há vida em foco, menos, mais.
Fez-se aos cantos, cacos, cena louca, riscos fartos, rasgos de ilusão.
Rede e poesia, vai e vem.
Formas sob as condições do tempo.
Feita com sereno, flor.
Feita com calor e pele.
Feita pelo ar, com as vestes do varal.
Feita com amor e vida, pontual.
                
                                                          " Caleidoscópica"
                                                                de Rosângela Monnerat

quinta-feira, janeiro 06, 2011

Un comentário no blog de um amigo, tornou-se esta "Conclusão Temporária"


Qual é a pergunta?
A resposta?
Trânsito lento à meia-noite.
Não há carros parados à frente. Mas insiste o sinal.
O tempo.
Fico de verde com um jeito vermelho de erro nas mãos.
Amarelo.
Amanhã ou depois serei o que espero.
Amanhã.
Ou como Pessoa, depois de amanhã.