Pode ser por uma bala ou por uma palmada.
Pode ser por um grito ou pelo brinquedo que caiu.
Na dor e no medo,
a criança é protagonista por inteiro,
sem figuração ou papel.
Daquela sacada olhei o que não podia ter,
andei por onde não podia ver,
sentei-me onde não podia estar.
Daquela sacada perdi mil léguas além,
saí sem tréguas de ninguém,
não tive paixão, não vivi.
Daquela sacada não corri, não pedi perdão.
Fiquei com tudo nas mãos, sem parar, sem assento, sem nada...
" ...de perspectiva"
de Rosângela Monnerat
Couple a la tete pleine de nuages
O artista põe a mesa
onde as silhuetas se colocam à margem.
Cruzam-se olhares com tudo que resta.
Nada se serve além do infinito.
Eles se abrigam onde cabem.
Ninguém sabe aonde vão...
Eles também não. Sim, por que não?
Lado a lado, no quadro, no quarto da lua, da rua
à beira do abismo do mar...
Onde colocar as mãos?
O artista deixou o cenário. A vida encantou-se.
Nada se soube depois.
"Um conto dalí "
de Rosângela Monnerat
O que confessei
também não sabia, e ainda não sei
Se soubesse não teria confessado
porque não seria pecado
Só mais um pedaço, um naco de mim, não é assim?
A mordida que doeu, foi palavra
não empenhada, guardada
como segredo em latim
Sei falar poucas línguas
e não sei adivinhar ainda
não muito mais que o tarô
Bordo palavras em inglês
escrevo português em tiras
e colo mentiras que não sou
Quando confesso, não bordo,
não escrevo, não invento
não sussurro sem razão