quarta-feira, junho 08, 2011

Apetrechos de Passagem ( uma menina de lua )


Menina, não sabia que ponta escolhia.
Puxava as rédeas de si, destrambelhada, num emaranhado de opções.
Seguia sem rumo, pequena travessa, atravessando a palavra, cortando o vício de viver seriamente.
Poucas vezes mentia, apenas não sabia contar toda a verdade. Verdades são intermináveis, dizia.
Seus amores eram plurais. Suas roupas eram fetiches de vestir a lua, estrelas de apontar desejos. Aprontava-se para sorrir ao luar.
Um dia a menina deixou a brincadeira e voltou-se ao inteiro dispor das coisas da hora. A poesia chamava, chamava, mas ela não ouvia. Corria da prosa.
Mesmo assim, de tempos em tempos, ela olhava para o passado, com olhos de lua cheia, alucinados.
Encontrava um restinho de si em seus guardados, e gostava de chorá-los, um a um - sentidos em tato, olfato, visão, audição.

Depois, só depois, abria a cortina do tempo para a vida presente. Enxugava qualquer resíduo de água de lua cheia, e apagava as lembranças.
Guardava de tudo, e para sempre, o mesmo brilho no olhar.             

                                          de Rosângela Monnerat
                                                  



 

2 comentários:

  1. que o brilho no olhar de menina nunca deixe de existir, ele torna tudo atraente. Meninas sabem ver com alegria.

    Beijos Ro

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  2. Sim, querida Van. A hora da menina tentará se garantir. Masmo que não tenha muito tempo ao seu dispor, a menina sabe se aproveitar mesmo do menor intervalo. Meninas sabem querer com crença infantil. Por isso conseguem. Porque não duvidam do que podem conseguir.

    Beijos, minha linda visita!

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