sábado, abril 02, 2011

Papel de Pano

    
Não tinha o que dizer até que a vi,
numa extravagância inteira
Uma estranha cena que devia estar guardada
apareceu assim, vermelha
A moça sob o vento, sobre a esfera,

revestida de tal cor,
enseja sedução ou guerra?
Não me ouvia, não sabia,
escondida alí, em seu papel

Sua silhueta então, apenas a supus
de tanto ver seu braço, a se estirar
O par de pés parados,

triste sentinela, a perder seu chão
Não podia andar, ou dar-se a ver
A cena louca parecia ser de pano, ou de papel,

não sei...não assinei
Só fiz tecer no meu olhar, um circo, arrebatador
Foi naquela cor, a moça, o braço, os pés,
o vento e o pano, a revoar
E tudo foi girando
e o corpo foi surgindo
O pano foi caindo, leve,
bem levado
A moça foi descendo, deslizando os pés
E tudo veio junto,
inclusive a cor, rasgada, pouco a pouco

A sede e o rosto, em queda, em colo 
Enquanto ela e ele se amassavam nus,
em meus papéis

               

 

2 comentários:

  1. Que lindo!

    o poder que uma imagem tem de nos transportar e criar cenas inteiras, enredos dos nossos tão bem guardados cenários.

    Beijos, Ro!

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  2. Sim, querida. O poder das imagens.
    Com elas, a palavra se faz movimento. Com frequência, elas se dão as mãos.

    Obrigada por estar aqui mais uma vez.
    Bj!

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