quarta-feira, setembro 23, 2009



Segure a minha paz
ela está nas mãos
Ela está no quadro, na parede ao lado

no meu quarto de guardar você
Não aperte muito o seu jeito manso de mostrar-se, nem o colo de se dar

Sua tênue condição espera por recato
se explica pouco
é ponderação
Não atenda o telefone

Não abrigue à porta
Passe o trinco na janela

feche os olhos
diga: Amor...
(tão doce que goteje no porão)

E depois, não diga nada
Deixe com o vazio, lasso
A alma, pronta

vai se aconchegar

"sequência de alma"
de Rosângela Monnerat



                          então...


Toda vez que eu me der
palavra ao jeito
fico aquém da interrogação
Não tirem conclusões aos versos
não se apressem em deduções
A poesia é recanto largo
vento farto, muita extradição


Poesia não tem mão
tem corredor

Não tem sinal, nem pare
Poesia não tem lacre, não tem redação
Poesia tem seu marco próprio
apenas foge às portas, foge às rotas
faz na contramão
Aquela que me leva, me redige
me reconta, conta
Concha e abissal
Poesia me tempera em sal, pimenta
sol, fazenda, cerca
e cerco pessoal
Poesia no quintal, na minha roça
na janela do meu trem, da minha moça prosa
Quando eu me fartar de vida
pode ser que ela perdure
e eu que me perdõe, ainda
sem parar
                                       
                      " de rodapé"
                               de Rosângela Monnerat
                                                       

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