quinta-feira, outubro 29, 2009
Dedilhando-se
Ela se esquiva das gotas em curva de acento abismal.
Ela se esgueira nas beiras de um rio de som caudaloso e real.
Ela se esconde em martírio de peso outonal.
Ela é tão doce que toca seus dedos no mel.
Ela é tão leve que tem melodia.
Ela é tão bela que usa dos panos pra não revelar-se demais.
domingo, outubro 25, 2009
Tudo é relativo
Ela faz a vida
Eu faço de conta
Ela tem preço
Eu, etiqueta
Ela aceita proposta
Eu proponho
Ela finge
Eu me entrego
Ela é puta
Eu fico
Eu faço de conta
Ela tem preço
Eu, etiqueta
Ela aceita proposta
Eu proponho
Ela finge
Eu me entrego
Ela é puta
Eu fico
sábado, outubro 24, 2009
Sumiram as interrogações da moça
Elas as escondeu sob si, sob o sinal da da cruz
Sobre a tela do rosto, escondeu-se com um pedaço da pele do palhaço, que roubou o seu final
Ela só queria provocar sorrisos, e chorou
Ela só queria ser a bailarina, engordou
E quando pespontava a expressão do medo,
ela confiou segredo ao mesmo olhar
Que triste, desistiu...
Circo e Cisão
de Rosângela Monnerat
sexta-feira, outubro 23, 2009
Em dez apontamentos
Em algum lugar, eu a senti, terrena
Senti a perna, o pelo, a pedra
Devolvendo ao corpo um ardor de praia,
um tremor de sono, uma perdição de anos
no seu plano mais carnal
Quando entendi o abismo, quase despenquei em cena
ao me estender de estalo num calor moreno,
baixo,
fundo,
farto de paixão
Senti a perna, o pelo, a pedra
Devolvendo ao corpo um ardor de praia,
um tremor de sono, uma perdição de anos
no seu plano mais carnal
Quando entendi o abismo, quase despenquei em cena
ao me estender de estalo num calor moreno,
baixo,
fundo,
farto de paixão
quarta-feira, outubro 21, 2009
O proibido, eu acho...
Já volto atrás
Só queria ver o proibido
Nenhum pecado
Nenhum fruto
Nenhuma fruta
Nem cobra nem lagartos
Só queria o proibido
Eu acho
Só queria ver o proibido
Nenhum pecado
Nenhum fruto
Nenhuma fruta
Nem cobra nem lagartos
Só queria o proibido
Eu acho
sábado, outubro 17, 2009
Lara, com rara expressão
Ah! Larinha...
a Larinha...
uma estrelinha em destaque
Mesmo que falte a palavra, sobram expressões
Jeitinho de brava, testa franzida
Um jeito sabido que é nato
Mesmo que ainda não tenha linguagem falada
Sobram argumentos no olhar
Não sei o que há de mistério no seu pensamento
Sorriso é amor, beijinho é afago
No espanto o beicinho é um fato
No colo constrói esperança
no fundo é criança
nenem, de ninar
Pra nós mais um conto de estrela
que com toda certeza
o tempo só faz confirmar
* segunda sobrinha neta
muita luz!
a Larinha...
uma estrelinha em destaque
Mesmo que falte a palavra, sobram expressões
Jeitinho de brava, testa franzida
Um jeito sabido que é nato
Mesmo que ainda não tenha linguagem falada
Sobram argumentos no olhar
Não sei o que há de mistério no seu pensamento
Sorriso é amor, beijinho é afago
No espanto o beicinho é um fato
No colo constrói esperança
no fundo é criança
nenem, de ninar
Pra nós mais um conto de estrela
que com toda certeza
o tempo só faz confirmar
* segunda sobrinha neta
muita luz!
Nas bordas das bodas
Quando se quer se vai longe.
O tempo se reverte em bens.
Bem querer de dois e de mais. Mais de cada um.
Comecei a brincar com a idéia das bodas. Idéia boa. Das boas que se multiplicam. Ninguém ousaria duvidar.
Anos de ousadia amorosa, de vida que teima em acertar. Uma coragem de recriar a cada dia a curiosa mania de preservar.
Um casal que ainda hoje se anuncia vencedor. Fez vencer uma antiga e conservada condição de partilha.
Acreditou numa convivência repartida a quatro mãos, quatro pés, quatro ouvidos e olhos, e muitos minutos de atenção.
Cuidou pra não perder os sentidos, o sentido de fato, o parceiro do lado, e o tato pra tocar um dia de cada vez.
Não existe mistério maior do que o amor praticado.
E onde aqueles dois venceram até aqui, com certeza, houve Deus a ganhar.
Os dois se casaram e hoje ainda se abraçam com a fé.
Não sabiam até quando iriam quando começaram, mas até aqui chegaram, e nem por isso se rendem a descansar.
Sabem que a jornada se faz com este dom de esperar sem supor além da medida.
O tempo é a vida em cada dia, saindo a contento, um desvelo ao sofrimento vencido e um obrigado bem terno às alegrias de um porvir.
A mulher, professora, trazendo a aprendizagem na bagagem, que com certeza, não se fecha em conclusões. Reage com perguntas ao novo, com netos a motivá-la, naquela mesma prontidão diária.
O marido, um tenente, com patente que garante aos ombros traços de compromisso com a disciplina da dedicação. É com certeza parceiro nas intenções, e até qualquer final ou folga.
São os mesmos sentidos a provocar mistério e ainda os medos, por que não?...
Assim as bodas falam ao meu coração.
Me dizem de um gesto primeiro em que dois ainda se querem e se alegram em mostrar este perfil.
Olham-se nos olhos e se permitem festejar este tempo singular em que se encontram.
São dois a deixar que os demais se agitem a buscar a explicação.
E é tão transparente o olhar da retidão.
Nem carece de correria, pelo contrário, é sem pressa.
É um tempo que começa pela determinação. Que descansa na saudade do que foi vivido e guardado com memória de elefante, que não apaga um instante sequer a vontade de ficar mais um pouquinho na vida de cada um.
O tempo se reverte em bens.
Bem querer de dois e de mais. Mais de cada um.
Comecei a brincar com a idéia das bodas. Idéia boa. Das boas que se multiplicam. Ninguém ousaria duvidar.
Anos de ousadia amorosa, de vida que teima em acertar. Uma coragem de recriar a cada dia a curiosa mania de preservar.
Um casal que ainda hoje se anuncia vencedor. Fez vencer uma antiga e conservada condição de partilha.
Acreditou numa convivência repartida a quatro mãos, quatro pés, quatro ouvidos e olhos, e muitos minutos de atenção.
Cuidou pra não perder os sentidos, o sentido de fato, o parceiro do lado, e o tato pra tocar um dia de cada vez.
Não existe mistério maior do que o amor praticado.
E onde aqueles dois venceram até aqui, com certeza, houve Deus a ganhar.
Os dois se casaram e hoje ainda se abraçam com a fé.
Não sabiam até quando iriam quando começaram, mas até aqui chegaram, e nem por isso se rendem a descansar.
Sabem que a jornada se faz com este dom de esperar sem supor além da medida.
O tempo é a vida em cada dia, saindo a contento, um desvelo ao sofrimento vencido e um obrigado bem terno às alegrias de um porvir.
A mulher, professora, trazendo a aprendizagem na bagagem, que com certeza, não se fecha em conclusões. Reage com perguntas ao novo, com netos a motivá-la, naquela mesma prontidão diária.
O marido, um tenente, com patente que garante aos ombros traços de compromisso com a disciplina da dedicação. É com certeza parceiro nas intenções, e até qualquer final ou folga.
São os mesmos sentidos a provocar mistério e ainda os medos, por que não?...
Assim as bodas falam ao meu coração.
Me dizem de um gesto primeiro em que dois ainda se querem e se alegram em mostrar este perfil.
Olham-se nos olhos e se permitem festejar este tempo singular em que se encontram.
São dois a deixar que os demais se agitem a buscar a explicação.
E é tão transparente o olhar da retidão.
Nem carece de correria, pelo contrário, é sem pressa.
É um tempo que começa pela determinação. Que descansa na saudade do que foi vivido e guardado com memória de elefante, que não apaga um instante sequer a vontade de ficar mais um pouquinho na vida de cada um.
sexta-feira, outubro 16, 2009
Clara em brinquedo, clara de mais
Esta é a que me representa melhor, como tia coruja.
Nesta, eu a vejo erguida, em seu perfil.
A vejo segura de si, mantendo o controle da situação.
Nesta eu vejo a menina, sobre pedais.
E sob a direção que seus pés tomarem, ao rumo das mãos.
Melhor intenção ninguém teria:
vê-la chegar onde quiser.
Um texto empoado
Se elas chegassem hoje à minha porta
eu as receberia muito bem, no meu traje solto
das altas horas de ninguém
Não as teria deixado paradas assim
esperando aplausos sem cores de mim, sem graça
Eu as teria assustado, talvez, com meu ar cansado de vida
Ou quem sabe eu as faria rir, com aquela falta de jeito de quem não sabe o que diz, porque mudou demais
(o espelho é quebrado nas mãos...)
Depois, eu saberia sim, só alguns segredos pueris, que eu nunca soube
Porque não me contariam de lá, onde fui criança, agachada no olhar
Daqueles corpos cheios de pudor, eu só guardei curiosidade
mesmo entendendo as beldades e suas muitas vaidades, frente ao toucador
Saí de nariz empoado em pó-de-arroz e "rouge" , apesar do meu "blush" moderno,
que estranhamente, acho que não tem nome em português
Ainda agora, sinto que é vergonha o que enrubesce a minha palidez
Enfim, elas vieram me contar, tudo que relembrei por ora
Levando ao que escrevi bem devagar, como quem pinta um afresco
Trazidas sob um tom acinzentado, aos restos de um desvão empoeirado
onde fui buscar saudade e texto
eu as receberia muito bem, no meu traje solto
das altas horas de ninguém
Não as teria deixado paradas assim
esperando aplausos sem cores de mim, sem graça
Eu as teria assustado, talvez, com meu ar cansado de vida
Ou quem sabe eu as faria rir, com aquela falta de jeito de quem não sabe o que diz, porque mudou demais
(o espelho é quebrado nas mãos...)
Depois, eu saberia sim, só alguns segredos pueris, que eu nunca soube
Porque não me contariam de lá, onde fui criança, agachada no olhar
Daqueles corpos cheios de pudor, eu só guardei curiosidade
mesmo entendendo as beldades e suas muitas vaidades, frente ao toucador
Saí de nariz empoado em pó-de-arroz e "rouge" , apesar do meu "blush" moderno,
que estranhamente, acho que não tem nome em português
Ainda agora, sinto que é vergonha o que enrubesce a minha palidez
Enfim, elas vieram me contar, tudo que relembrei por ora
Levando ao que escrevi bem devagar, como quem pinta um afresco
Trazidas sob um tom acinzentado, aos restos de um desvão empoeirado
onde fui buscar saudade e texto
terça-feira, outubro 13, 2009
de um mito cor-de-rosa
Ele quase não me deixou espaço para minhas intenções
Ocupou-se de tudo que podia
do céu, das estrelas, da noite inteira e do meu dia
do céu, das estrelas, da noite inteira e do meu dia
Encheu minha tela de rosa, de fantasia de cor
Morou onde não devia, e ao firmamento voltou, sem cessar
Trazia no pêlo, nas asas, em meias palavras,
um estilo sem par
um estilo sem par
Cansou de voar, cansou de levar-me, cansou do meu peso, da minha terrena opção
Há muito o seu jeito de sonho mudou
Trotou pelas minhas ruelas de dor, a mostrar-se, a fazer-me acordar
Não quero deixá-lo a cansar-se, a perder suas penas por mim
Que volte ao sereno
Que siga seu rumo de sol, de ar puro e carícias de amor
Que leve de mim o que possa, o que teve das minhas mais lindas manhãs
Assim, cada noite, a cor do luar, um jeito de estar, uma tristeza de ir
Aquela vontade de ser, a esperança de ousar, a saudade de ouvir
A canção que contava que a estória que era uma vez, outra vez, e pra sempre será
sexta-feira, outubro 09, 2009
De palavras e sons vorazes
Aprendemos juntos a ouvir o silêncio.
O que de pesado não tive, não sei mais.
O tempo arrastou-me à vida, com suas comportas abertas, a jorrar-me, sem dó.
Hoje não tenho saída, a não ser me partir, sem parar.
E mesmo se chance me houvesse, não sei, não saberia estancar-me.
Creio que a água me ocorre em dilúvio. Sou tempo de ir, ao final.
O que deleguei ao futuro são sonhos de mais.
Me faço bonita com poucas verdades textuais.
Me faço verdade com poucas belezas pontuais.
Acredito na voz que me afaga da aurora ao breve entardecer.
Me largo no seu colo, no meio da noite, e escuto a canção.
A voz do silêncio me guia, não me deixa mais.
Escuto com fé o que diz, e deixo a ecoar.
De onde ela veio há muitos recursos
que outrora chamavam de paz.
sábado, outubro 03, 2009
Cresce uma estrela
Elas começam cedo
Parecem perder o medo sem pressa
Saem do armário da mãe, com tudo
Trazem perfume, batom
Escondem a certeza dos olhos com óculos de sol
Colocam nos dedos anéis, e nos braços argolas e bolsas
Se fingem de moça tão cedo que enganam seus pais
Não querem segredo, mas querem respeito e direitos
Ah! direitos demais...
As muitas meninas, no rastro de estrelas
Esta, Ana Clara, brilhando de sobrinha neta
A primeira a despontar
" Ana Clara foi às compras"
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